O diabetes tipo 2 é uma doença crônica, progressiva e, muitas vezes, silenciosa. Por muitos anos, acreditou-se que era uma condição irreversível. No entanto, evidências científicas recentes mostram que é possível alcançar a remissão do diabetes tipo 2, especialmente por meio de mudanças intensivas no estilo de vida.
Uma doença silenciosa, mas perigosa!!!
Muitas pessoas convivem com diabetes tipo 2 por anos sem apresentar sintomas evidentes. Durante esse tempo, porém, o excesso de glicose no sangue pode causar danos significativos e progressivos ao organismo. As principais complicações do diabetes mal controlado incluem:
- Doença cardiovascular (infarto, AVC)
- Doença renal crônica, que pode levar à diálise
- Retinopatia diabética, com risco de cegueira
- Neuropatia diabética, que compromete a sensibilidade e aumenta o risco de amputações
- Maior predisposição a infecções, como infecções urinárias e cutâneas
- Disfunção erétil
Essas complicações estão relacionadas não apenas ao excesso de glicose, mas também a um estado inflamatório crônico característico do diabetes.
O caráter inflamatório do diabetes tipo 2
O diabetes tipo 2 não é apenas uma doença metabólica. Hoje sabemos que ele está fortemente ligado a um processo inflamatório crônico de baixo grau. Adiposidade visceral (gordura abdominal), resistência à insulina e hiperglicemia estimulam a produção de citocinas inflamatórias como IL-6, TNF-α e PCR (proteína C reativa), contribuindo para o dano vascular, disfunção endotelial e progressão das complicações.
Essa inflamação sistêmica é um elo importante entre o diabetes e o risco aumentado de doenças cardiovasculares, renais e neurodegenerativas (Hotamisligil, 2006; Donath & Shoelson, 2011).
Remissão: um novo paradigma no cuidado
A remissão do diabetes tipo 2 é definida como níveis normais de glicemia (HbA1c < 6,5%) mantidos por pelo menos três meses, na ausência do uso de medicamentos para diabetes. Estudos como o DiRECT Trial, realizado no Reino Unido, demonstraram que até 46% dos pacientes conseguiram atingir remissão após um ano de intervenção com perda significativa de peso, por meio de mudanças intensas na alimentação e estilo de vida (Lean et al., 2018).
Esses resultados mostram que a remissão não é apenas possível — ela é alcançável com orientação médica adequada.
O papel das mudanças no estilo de vida
A base para atingir a remissão está na adoção de um estilo de vida saudável. Isso inclui:
- Alimentação balanceada, com menor ingestão de carboidratos refinados, alimentos ultraprocessados e maior consumo de vegetais, proteínas magras e gorduras boas
- Atividade física regular, com exercícios aeróbicos e de resistência
- Sono de qualidade, fundamental para o controle do metabolismo
- Redução do estresse, que interfere diretamente na resistência à insulina e no apetite
Com essas mudanças, muitos pacientes conseguem reduzir ou até suspender o uso de medicamentos, incluindo a insulina, após avaliação criteriosa com o endocrinologista.
Importante: não interrompa seus medicamentos sem orientação médica
Cada caso deve ser avaliado individualmente pelo endocrinologista. A retirada de medicamentos só deve ocorrer com acompanhamento profissional, após melhora comprovada dos parâmetros metabólicos.
Conclusão
O diabetes tipo 2 é uma doença séria, com potenciais complicações devastadoras. Mas também é uma condição que, quando diagnosticada precocemente e abordada com estratégia, pode ser revertida. O caminho para a remissão exige comprometimento, mas é possível — e pode transformar completamente a qualidade e a expectativa de vida.
Lembre-se: viver bem com diabetes é possível e, em alguns casos, viver sem ele também!!
Referências
- Lean MEJ, et al. (2018). Primary care-led weight management for remission of type 2 diabetes (DiRECT): an open-label, cluster-randomised trial. Lancet, 391(10120), 541-551. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)33102-1
- Prevention or delay of diabetes and associated comorbidities: Standards of Care in Diabetes—2025. Diabetes Care, v. 48, n. Supplement_1, p. S50-S58, 2025.
- Donath MY, Shoelson SE. (2011). Type 2 diabetes as an inflammatory disease. Nat Rev Immunol., 11(2), 98–107. https://doi.org/10.1038/nri2925
- Hotamisligil GS. (2006). Inflammation and metabolic disorders. Nature, 444(7121), 860–867. https://doi.org/10.1038/nature05485
- Taylor R. (2013). Type 2 diabetes: etiology and reversibility. Diabetes Care, 36(4), 1047–1055. https://doi.org/10.2337/dc12-1805